Vivemos um momento sem precedentes na história da humanidade.
Por isso abordarei aqui os dilemas da liderança e seus impactos e apresentarei algumas alternativas de como lidar com tudo isso e sair mais fortalecido no final.
As organizações empresariais como todas as outras estão convivendo com a incerteza absoluta. Derivando daí sérios dilemas da liderança. Vamos a eles:
Estar confortável em um ambiente de desconforto:
O líder é um ser humano que sente medo, está inseguro, trabalha muitas horas, está com os filhos em casa e também não pode encontrar familiares e os amigos.
Apesar da instabilidade, precisa estar equilibrado, com mentalidade de protagonista, indicando os rumos para saída da crise, demonstrando otimismo e motivando as pessoas.
Além de tudo isso, precisou adaptar-se num prazo curtíssimo para trabalhar em ambientes digitais nem tão prontos assim, de forma quase ditatorial.
Garantir resultados em uma economia recessiva:
Além dos aspectos de saúde, convivemos com a estagnação da economia, onde a sobrevivência dos negócios está em jogo para muitos segmentos.
Com exceção de alguns ramos de atividade, a maioria encontra-se sem dinheiro em caixa, com portas fechadas ou com redução absurda das vendas e diminuição do quadro de funcionários. Precisando ser eficiente como nunca para garantir ao menos a sobrevivência dos negócios até esse turbilhão passar de forma consistente.
Delegar confiando sem perder o controle:
Estimular o Ownership (sentimento de dono) afim de garantir o engajamento das pessoas, para que, mesmo em home office, tomem para si a responsabilidade de entregar metas e tarefas nos prazos necessários.
O problema, aqui, é que na maioria dos casos os líderes até agora não conseguiam engajar as pessoas, em especial as gerações mais jovens. E agora precisam garantir a produtividade sem estar perto para controlar e fiscalizar, como era feito até recentemente.
Ter coragem mantendo a cautela:
Está sendo exigido que o líder seja corajoso para assumir riscos e responsabilidades.
Apesar de não ter bases pra tomar decisões, precisa decidir rápido. Por exemplo: fecha e vai pra casa ou mantém aberto com baixa demanda, produz ou não produz, dá férias ou suspende o contrato. Isso sem transpor uma linha tênue, ainda desconhecida, que divide quem passará pela turbulência e quem sucumbirá à tempestade.
Ter humildade sem perder a autoconfiança:
Os líderes estão submetidos a situações que exigem humildade intelectual pois não têm todas as respostas, precisando recorrer às pessoas com suas opiniões e ideias. Porém não podem entrar no movimento de vitimização, já que são eles quem precisam ser confiantes para instigar as pessoas a acreditarem que estão no caminho certo.
Se o líder não demonstrar autoconfiança e a equipe esmorecer, a batalha já estará perdida. Por outro lado se ele for arrogante e demonstrar autossuficiência, também perde seus aliados.
Ressalto que todas essas constatações são de agora, durante a Pandemia, logo que essa fase passar, teremos dilemas da liderança diferentes, com possibilidades diferentes.
Mas então como fazer desse limão uma limonada?
Conforme nos apresenta o professor e consultor Pedro Mandelli: para engajar as pessoas nesse novo normal, o líder precisa estar presente, compartilhar suas vulnerabilidades e exercer uma liderança autêntica.
Considerando a visão de CEOs brasileiros como José Vicente Marino e pesquisas atuais da Deloitte, PWC e outras, a Inteligência Emocional, a Liderança Servidora e as Habilidades Digitais são competências indispensáveis nesse cenário.
As pessoas estão ansiosas e com medo por isso o líder precisa estar próximo. Através das plataformas digitais isso é possível, e não só para cobrar, mas com interesse genuíno em apoiá-las em suas “realidades reais”, como diz José Vicente Marino.
Saber se elas têm boa internet em casa, se sua cadeira é adequada para ficar o dia todo trabalhando, se elas estão bem, por exemplo.
Estar disponível e acessível para servir ao outro buscando reais soluções em prol da missão que assumiram de levar à frente suas organizações e tudo o que isso representa: acionistas, colaboradores, clientes, parceiros e fornecedores.
Talvez estejamos diante de uma das maiores dificuldades do ser humano: a de servir ao outro verdadeiramente, abrindo mão do narcisismo, na qual necessitamos ser servidos para satisfazermos nossos egos. Os colaboradores precisam sentir-se cuidados.
Liderança autêntica:
Sobre compartilhar a vulnerabilidade, Mandelli refere à necessidade de criar conexões verdadeiras que gerem confiança, o que acontece quando o líder expõe seus medos e angústias, seu “não saber”, e admite para si mesmo que tudo bem pedir ajuda, dessa forma maximizando as decisões acertadas.
Desaprender passou a ser uma atitude vital nesse ambiente que, literalmente, muda todos os dias.
Apresentar a liderança autêntica como solução para momentos de crise justifica-se pela necessidade de coerência e transparência como forma de mobilizar as pessoas, condição primordial para reduzir os impactos da crise e conseguir sair dela.
O líder autêntico não esconde a estratégia na gaveta. Ele fala a verdade de forma transparente e adequada a cada público, e mais do que isso, age de acordo com o que diz.
Não adianta dizer que devido à crise todos os salários foram reduzidos e no dia seguinte postar nas mídias sociais seu carro zero.
Nada mais valioso para manter as relações de confiança que a congruência entre o que você fala e o que você faz. Mais sobre liderança autêntica você encontra no livro Líder Autêntico de Bill George.
Desenvolva habilidades digitais:
Somado a todas essas competências comportamentais citadas acima, se faz imprescindível desenvolver habilidades digitais. A forma de trabalhar e de fazer muitas coisas está no ambiente digital, e as tecnologias não vão recuar, mesmo depois que tudo passar.
Não dominar o uso das novas tecnologias é como não saber usar o telefone celular em 2010, quando 83,3% das empresas brasileiras faziam seus negócios por meio dele.
Certamente os abraços apertados e os apertos de mãos voltarão a fazer parte do nosso convívio. Porém, a partir dessa experiência, a tecnologia estará muito mais presente em nosso jeito de viver.
Tire de si qualquer resistência e abrace o novo, dedique-se a aprender mais e descobrirá muitos benefícios.
Cuide de si mesmo:
E finalizando, para conseguir fazer isso tudo, o líder precisa estar saudável, física e emocionalmente.
Além das medidas sanitárias, trabalhe em si o otimismo e a crença de que tudo passará; reconheça e aceite o que você controla e o que não pode controlar.
Seja protagonista naquilo que é de sua responsabilidade e escolha olhar para esse momento como de oportunidades.
Faça atividades que movimentam o corpo como: subir escadas, brincar com filhos, dançar na sala, caminhar, meditar, fazer orações, ter uma alimentação saudável. Enfim tudo que ajude a diminuir a ansiedade e manter o bem estar.
Para finalizar, dissemine boas notícias e lembre-se de que é nos momentos de crise que se constroem os verdadeiros líderes.
Então vamos ao aprendizado!
Edilene Bocchi. Consultora e Coach parceira do Grupo Valure